SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo, em Cannes
Três dias após a exibição de "Ensaio sobre a Cegueira" na abertura do Festival de Cannes, o diretor Fernando Meirelles contabilizava, ontem, "80% de críticas negativas" a seu filme.
Meirelles passou a ouvir com freqüência a provocação: "É cegueira da crítica?". A resposta do cineasta afasta o confronto: "Não. Sou democrático. Respeito opiniões diferentes".
Mas o diretor não recua da defesa de sua obra. "Há muita experimentação nesse filme. É claro que é mais fácil seguir um caminho conhecido. Mas, por alguma razão, sempre me coloco em situações de risco", diz.
Além das experiências que fez no modo de dirigir "Ensaio sobre a Cegueira", Meirelles cita a escolha do aclamado livro do Nobel de Literatura português José Saramago como outro risco que decidiu correr deliberadamente. "Adaptar um bom livro é sempre considerado um erro. Eu sabia disso. Talvez seja algo suicida em mim."
Saramago assistirá ao filme em sessão privada hoje à noite, em Lisboa. Com a saúde frágil, o escritor foi desaconselhado pelos médicos de viajar até Cannes. "Talvez os médicos soubessem que as críticas iam ser ruins", brinca Meirelles.
Em tom sério, ele volta à questão de se arriscar e cita o "grande apoio" que tem de seus pais. "Desde sempre e ainda hoje eu tive essa sensação de que posso contar com eles, de que há alguém a quem recorrer."
À parte o apoio, Meirelles diz que "o sofrimento é um bom modo de aprender" e que "se há uma questão que o filme propõe é essa: quanto sofrimento é necessário para aprender?".
Com a repercussão em Cannes, o diretor diz ter aprendido ao menos uma coisa: "Se você tem um filme polêmico, não o leve a um festival".
"Ensaio sobre a Cegueira" é um dos 22 concorrentes à Palma de Ouro. O vencedor será conhecido no próximo dia 25.
O filme deve chegar aos cinemas no segundo semestre.
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