Aug 25, 2008

Entrevista coletiva: Fernando Meirelles, Julianne Moore e Alice Braga


"'Ensaio sobre a cegueira' não é um filme hollywoodiano. É uma produção independente". Foi assim que o diretor Fernando Meirelles ("O jardineiro fiel" e "Cidade de Deus") começou nesta segunda-feira em São Paulo a coletiva sobre a sua mais recente produção, que teve também a participação de suas principais atrizes, a americana Julianne Moore e a brasileira Alice Braga.

"Ensaio sobre a cegueira", baseado no romance homônimo de José Saramago, estréia nos cinemas em 12 de setembro, trazendo também no elenco Mark Ruffalo, Danny Glover e Gael García Bernal.

Para chegar ao resultado visto nesta manhã pelos jornalistas brasileiros, Meirelles contou que montou o filme 14 vezes e fez várias modificações após testes com diversos espectadores.

- Tirei uma cena de estupro coletivo muito violenta. Em um test screen, algumas pessoas levantaram e foram embora depois desta cena. Achei que ela desconectava o público do filme - explica o consagrado diretor brasileiro.

O diretor lançou mão de "truques e soluções para desconstruir a imagem", criando um visual inovador e arrojado para contar a história da população de um país sem nome que é acometida por uma epidemia de cegueira branca. Apenas a mulher de um oftalmologista, interpretada por Julianne Moore, escapa da doença.

- A primeira solução óbvia foi usar uma imagem muito branca, saturada. Além deste branco que corrói as imagens, trabalhei com reflexos, muita imagem mal enquadrada e fora de foco. Em um momento, fiz com que o som, que é muito enfatizado durante todo o filme, se dissociasse da imagem. Foram truques para colocar o espectador neste mundo da cegueira branca - disse Meirelles.

Sobre o futuro, Meirelles assegurou que não pretende trabalhar para os grandes estúdios.


- Funciona muito bem, para mim, fazer produções independentes internacionais. Recebi convites de estúdios e os recusei e espero poder continuar sem aceitá-los. Uma solução boa para mim é fazer um filme internacional e, quando eu quiser filmar em português, faço televisão, como estou fazendo agora. Vou alternar produções internacionais com a TV.

Meirelles concluiu que é movido a desafios. Depois de fazer dois filmes com lastro na realidade, como "O jardineiro fiel" e "Cidade de Deus", "Ensaio sobre a cegueira" o levou a um mundo menos realista, onde se fala de uma doença que não existe, personagens sem nome e um local não identificado.

- Tudo é inventado e o espectador não tem base para se identificar. Sofri muito com a história. Quero que o próximo filme seja bem fácil. Uma comédia - brincou.

Entrega total

Julianne Moore não poupou elogios a Meirelles e ao Brasil.

- Tive momentos maravilhosos durantes as filmagens no Brasil. Por isso, voltei para cá com meu filhos para passar férias. Estava com eles na Amazônia antes de vir a São Paulo para a coletiva - contou a atriz, bronzeada, novamente ruiva (no filme ela está mais alourada) e linda em uma blusa verde e calça preta.

" Ela parece no filme um anjo branco "

Moore (atriz de "Hannibal", "Magnólia", "Boogie nights", "Nove meses", "Os esquecidos", entre outras produções) disse que confiou inteiramente em Meirelles e tudo o que fez foi oferecer o melhor de si.

- Eu faria qualquer coisa que Fernando pedisse.

A atriz conta que primeiro leu o roteiro e ficou impressionada com a linguagem. Depois foi ler o livro de José Saramago e então compreendeu que era este o estilo do autor português.

- A interação entre os personagens se baseia exclusivamente no que eles percebem do outro.

Para ela, foi um desafio a maneira como Fernando Meirelles trabalha com atores.

- Você vê nos filmes de Meirelles muito mais a pessoa e menos atuação.

Sobre sua personagem, Julianne disse que ela não é uma heroína.

- É uma personagem que não anda em linha reta. Ela não é sempre ideal ou heróica.

A atriz disse que o cinema ajuda a construir uma ilusão de que alguém vai chegar com a salvação.

- Esperamos que venha o Batman ou Bruce Willys para nos salvar. Mas ela é a mulher do médico, não é o Batman - conclui, arrancando risos dos jornalistas.

Loura contra a vontade do diretor

No primeiro encontro de Julianne Moore com Fernando Meirelles, ele pediu que a atriz engordasse um pouco e cortasse os cabelos na altura das orelhas para viver a personagem. Mas a atriz achou que se continuasse ruiva, como Meirelles havia pedido, iria se destacar dos demais, então decidiu, contra a vontade do diretor, tingir os cabelos de louro. Apesar de contrariado em um primeiro momento, o diretor acabou concordando e aprovando a perspicácia da atriz.

" É um prazer estar de volta às mãos de meu padrinho "

- Ficou tão boa a imagem pálida, que decidimos adotar cores neutras para o figurino. Ela parece no filme um anjo branco - elogiou Meirelles.

Futebol com os filhos de Julianne Moore

Alice Braga contou que o grupo de atores tornou-se uma família após seis semanas de filmagens em um presídio desativado no Canadá, cenário das cenas em que os personagens eram colocados pelo governo em quarentana, num hospício.

A jovem atriz lembra que, apesar da densidade das gravações, havia em frente ao presídio um lago e uma linda paisagem rural, onde ela costumava jogar futebol com os filhos de Julianne Moore e de Meirelles.

- Celebrávamos com mais alegria à vida, graças às cenas pesadas nas quais trabalhávamos.

Alice Braga contou também que estava feliz em ter voltado a trabalhar com Meirelles.

- Foi um reencontro com Fernando (que revelou ao mundo Alice Braga em "Cidade de Deus"). É um prazer estar de volta às mãos de meu padrinho.

Márcia Abos - O Globo Online



1 comment:

Goldenlight said...

Sometimes our light goes out but is blown into a flame by another human being. Each of us owes deepest thanks to those who have rekindled this light.

Hamed Sepheri

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin

Atalho do Facebook