Indulto de Natal

Dia 23 de dezembro em Florianópolis, duas horas da tarde, o sol a pino, eu estava sozinha no ponto de ônibus da Agronômica, bem perto do presídio da cidade, quando chegou um rapaz, ele devia ter seus 25 anos de idade, se dirigiu a mim com respeito e perguntou se já havia passado o ônibus que iria para Canasvieiras, respondi que sim tinha acabado de passar.

Enquanto esperávamos os ônibus, eu queria o Lagoa da Conceição, observei melhor o rapaz. Ele estava sem camisa, corpo forte, cheio de tatuagens, num dos braços tatuado Jesus Cristo e muitos terços brancos e azuis pendurados no pescoço. O que me chamou a atenção foi que ele resolveu sair do abrigo em que esperávamos os ônibus __ que por sinal é uma droga, tem uma cobertura de plático e é muito quente __ amarrou a camiseta na cintura e foi feliz esperar seu ônibus no asfalto em baixo daquele sol forte de verão.
Depois de uns 20 minutos, trocamos algumas palavras, o rapaz, tomando sol no asfalto e eu "assando" no abrigo do ponto da Agronômica. Ele estava claramente feliz, animado, disse que iria ver a família nos Ratones
O ônibus dele chegou antes do meu, ele timidamente me desejou feliz natal e vestiu a camiseta que estava amarrada na cintura, foi quando me dei conta de onde vinha tamanha felicidade.
Na camiseta havia um número, como os uniformes dos detentos nos presídios.Nesse momento entendi que o rapaz era um presidiário que acabara de receber seu indulto de Natal, ou seja, sair provisóriamente do cárcere, indulto concedido para presos de bom comportamento passar as festas de fim de ano com a família.
Não sei explicar muito bem, mas "assistir" aquela cena me tocou, o jovem contente por estar em liberdade recebendo a luz de um dia ensolarado.
Esse ano 160 mil presos em todo o país deixaram as penitenciárias para passar o Natal com a família.