Aug 25, 2006

"Vizinho do Jefferson" é candidato a deputado em SC








RICARDO LOBO, autor do blog "Vizinho do Jefferson", é o trunfo do Partido Verde (PV) de Santa Catarina para tentar eleger, pela primeira vez, um deputado federal no Estado. Publicitário de ofício, Ricardo começou a se envolver com ambientalismo há 20 anos, mas foi do blog e da fama repentina que veio o empurrão que faltava para virar candidato.
O publicitário de 45 anos morava no primeiro andar do prédio em frente ao do deputado Roberto Jefferson, na superquadra 302, em Brasília. Em junho de 2005, no auge da crise do mensalão, o deputado carioca protagonizava acusações contra o governo e os colegas de Câmara. Foi quando Ricardo pôs na rede o blog "Vizinho do Jefferson" para contar a rotina do deputado e o que via a metros da sua janela: jornalistas de plantão de olho no sexto andar do prédio em frente, onde morava o deputado.

"Criei o blog para fazer um making of da cobertura", conta. Do contato com os repórteres vieram os convites para entrevistas em jornais, rádios e televisão.

Da primeira nota, em 21 de junho, até dezembro de 2005, o publicitário viveu apenas em função do blog. "Não me pergunte sobre as minhas finanças porque elas ficaram caóticas", avisa. O único patrocinador do blog foi um cyber-café que pagava a banda larga para o acesso à Internet. O medo da independência editorial, segundo o blogueiro, afastou outros potenciais financiadores. A dedicação, no entanto, rendeu cerca de 1,5 milhão de acessos, pelas estimativas de Ricardo, e o orgulho de ter a primeira credencial de impressa dada a um blogueiro pelo Senado Federal. Antes da dedicação exclusiva, o publicitário dava aulas de redação para Internet e palestras sobre comunicação digital.

Ricardo não tem bens, segundo a declaração feita ao Tribunal Superior Eleitoral, e percorre de ônibus os 31 quilômetros do caminho entre a casa onde mora na praia dos Açores, na região sul de Florianópolis, e o Comitê de campanha, no Centro. O trajeto, ida e volta, é feito desde 11 de agosto, quando chegou de Brasília. No caminho, aproveita para conversar com eleitores e pedir votos.

"Eles só não entendem o que um candidato está fazendo dentro de um ônibus". O R$ 1,2 milhão declarado ao TSE como estimativa de gasto na campanha foi um valor determinado pelo partido para todos os candidatos à Câmara.

Se depender da campanha nos ônibus, Ricardo terá que andar muitos quilômetros. A pretensão da candidatura não é modesta: 80 mil votos. Para se ter uma idéia, nas eleições de 2002, apenas dez candidatos a deputado federal conseguiram essa quantidade de eleitores em Santa Catarina.

"Minha campanha está começando agora, a partir do momento em que chegarem os santinhos", conta o candidato, que com o material de campanha pretende acompanhar os candidatos majoritários da coligação "Salve Santa Catarina" (PP, PV, PMN, Prona), Esperidião Amin (governo) e Gerson Basso (Senado).

Ricardo acha que pode superar os adversários nas urnas mostrando que tem diferenciais. Afirma ter conhecimentos da estrutura do governo federal e Congresso, que possibilitam a formulação de lei e projetos que tramitem e, de fato, tragam benefícios à população.

"As pessoas sabem o que é só papo e o que não é". Uma das propostas concretas é diminuir a carga tributária do setor produtivo. Mas defesa do meio-ambiente e desenvolvimento sustentável são os temas recorrentes.

Convite
A candidatura foi um convite do PV, a quem o candidato sempre foi ligado. Na década de 80, fez parte de movimentos ambientalistas como o SOS Baleia e o SOS Mata Atlântica, mas não se filiou ao PV porque quem participava das organizações não podia fazer parte de partido político.

"Eles integrantes do PV me chamam de histórico. Eu estava lá na festa de fundação do partido, comprando boton, participando", afirma. A opção por Santa Catarina foi decisão da executiva federal do PV e levou em conta os dois períodos em que o candidato morou em Florianópolis, de 1990 a 1992 e, depois, de 1997 a 2000. Os pais e alguns sobrinhos moram até hoje na capital catarinense. Em 2000, foi para Brasília trabalhar na Embratur, convidado por causa do trabalho em duas ONGs ambientais. Lá se reaproximou do PV. A filiação ao partido só ocorreu no ano passado, quando foi convidado para ser candidato.

Se o "Vizinho do Jefferson" não existisse, aposta Ricardo, ele com certeza não seria candidato em Santa Catarina, mas talvez em outro Estado.


Tadeu Martins
Direto de Florianópolis

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