Dec 6, 2006

Astrologia _O MAPA COMPOSTO


Este seminário teve lugar a 27 de Abril de 1997 no Regents College em Londres, como parte do Período Lectivo de Verão do programa de seminários do "Centre for Psychological Astrology" ensinado por LIZ GREENE

Um mais um igual a três


O Horóscopo da Relação
por Liz Greene baseia-se numa combinação do mapa composto e da sinastria. Esta é uma interpretação integrada do horóscopo composto. Poderá aprender sobre a “química” entre os parceiros e o “terceiro elemento” que estes têm em comum.



O conceito por trás do mapa composto é que este representa a própria relação como um terceiro factor. Duas pessoas criam um terceiro elemento entre elas. O mapa composto é como um campo de energia que afecta ambas as pessoas, extraindo certas coisas de cada indivíduo bem como impondo-lhes a sua própria dinâmica.

O mapa composto não descreve o que cada pessoa sente em relação à outra. Neste sentido ele é muito diferente da sinastria, a qual descreve a química existente entre duas pessoas em termos de como estas se afectam uma à outra. Ao explorarmos a sinastria numa relação, dizemos: “A tua Vénus encontra-se no meu Marte. Tu activas o meu Marte e fazes com que eu reaja Marcialmente, e eu activo a tua Vénus e invoco em ti uma resposta Venusiana. É por isso que temos certos sentimentos um pelo outro.” Quando olhamos um mapa composto, não exploramos aquilo que duas pessoas activam entre si ou sentem uma pela outra. Interpretamos o campo energético que essas duas pessoas geram entre elas. O mapa composto é como uma criança, uma terceira entidade que carrega as impressões genéticas de ambos os pais mas que conjuga essas impressões numa forma completamente nova e que existe independentemente de cada um deles.

Como o mapa composto contém todas as mesmas características que um mapa natal, é necessário abordar a sua interpretação de maneira similar. O mapa composto tem um núcleo de identidade, que representa o seu "propósito" (o Sol) e um conjunto característico de respostas e necessidades emocionais (a Lua). Tem um modo de comunicação (Mercúrio) e uma série distinta de valores e ideais (Vénus). Tem um modo de expressar energia e vontade (Marte). Tem a sua própria forma de crescimento e expansão (Júpiter) e tem limitações e mecanismos de defesa inatos (Saturno). Tem uma vulnerabilidade específica em relação ao colectivo devido a padrões de origem colectiva do relacionamento (Quíron). Reflecte certos ideais colectivos que anseiam por mudança e progresso (Urano). Tem aspirações inatas que reflectem certas fantasias colectivas (Neptuno). Possui um instinto de sobrevivência de base que pode sustentar a continuidade da relação mas que pode igualmente ser destrutivo se a relação se encontrar em perigo (Plutão). Tem uma imagem ou um papel a desempenhar perante os olhos da sociedade (MC), e uma "personalidade" que se expressa de forma característica para o mundo exterior (Ascendente). Os signos num mapa composto descrevem a matéria básica ou o "temperamento" do qual a relação é feita; os planetas descrevem as energias motivadoras; e as casas descrevem as esferas da vida através das quais os planetas se expressam. Tudo isto é Astrologia básica e não é menos aplicável ao mapa composto que ao mapa natal individual.


A relação como uma entidade
Não costumamos pensar nos nossos relacionamentos como entidades independentes. Pensamos mais em termos dos nossos próprios sentimentos e atitudes ou dos sentimentos e atitudes da outra pessoa. No entanto, cada relacionamento cria o seu próprio ambiente. Nenhum de nós se comporta da mesma forma enquanto parte de um casal como quando funciona a solo. Podemos ter padrões de comportamento característicos quando estamos sós mas no momento em que nos encontramos com o nosso parceiro, um certo tipo de energia dinâmica põe-se em movimento e nós comportamo-nos de formas particulares, que por vezes se tornam bastante visíveis na companhia de outras pessoas.


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Duas pessoas envolvidas numa relação criam uma atmosfera à sua volta, não por escolha consciente, mas porque isso é simplesmente o que acontece. Muitas vezes são os outros que nos fazem tomar consciência disso. "Vocês parecem ser um casal tão cheio de vida e atractivo!" poderá dizer um amigo, ou, "Mas que vida tão excitante vocês devem ter!". Entretanto, um dos dois pode pensar para consigo: "Mas sobre o que é que eles estão a falar? Não é assim que eu me sinto." Podemos observar algo como Júpiter composto ascendendo em Sagitário e Balança no MC composto, e as outras pessoas percebem o relacionamento como uma entidade Jupiter-Vénus excitante e glamorosa. Mas o Saturno de um dos parceiros poderá estar em conjunção com a Lua e em oposição ao Sol do outro, e a sinastria entre os mapas natais poderá fazer com que se sintam mais como Sísifo e a sua rocha que como Mick Jagger e Jerri Hall. O contrário também pode ocorrer. O mapa composto poderá ter Saturno ascendendo e Quíron descendendo, e o mundo verá algo bastante pesado quando os parceiros estão juntos. Mas a sinastria pode envolver muitos contactos entre Vénus - Jupíter - Urano, reflectindo excitação dentro da relação, que ambos sentem pessoalmente mas que não se expressa aos outros.

Podemos aprender imenso sobre os aspectos do mapa composto de um relacionamento importante perguntando às outras pessoas como elas vêem esse relacionamento. É possível que muitas vezes fiquemos surpreendidos, pois a resposta pode não reflectir aquilo que realmente sentimos pela outra pessoa. O mapa composto, tal como um mapa natal, apresenta-se perante o mundo de acordo com o seu Ascendente e Meio do Céu. Tem um planeta regente que focalizará a expressão do relacionamento numa determinada casa ou esfera da vida. As casas do mapa composto funcionam da mesma forma que num mapa natal, reflectindo esferas de ênfase através das quais as dinâmicas do relacionamento se manifestam. Quando os planetas compostos realçam uma casa composta, essa área da vida será extremamente importante para a relação e ambos os indivíduos serão forçados a focar a sua atenção nela, mesmo que a mesma casa se encontre vazia em ambos os mapas natais. Um relacionamento pode forçar-nos a ter que confrontar certas áreas da vida, mesmo que natalmente não estejamos predispostos ou bem providos para vencer essa área.

Os mapas compostos têm as suas próprias leis e energias, que nada têm que ver com "se combinamos bem" com alguém. O mapa composto por si só não nos falará sobre compatibilidade. Isso é para a sinastria. O mapa composto não revelará se a relação é "boa" ou "má" em termos da química existente entre duas pessoas. O mapa composto diz-nos: "Se escolher entrar nesta relação, aqui está o seu significado e o seu padrão de destino. Isto é o que ela é e para que é." Se quisermos saber se esse significado e destino nos farão bem ou não, teremos que comparar o mapa composto com o nosso próprio mapa.

Se examinarmos a sinastria entre o mapa composto e o mapa de cada indivíduo no relacionamento, podemos aprender muito sobre como a relação faz cada um se sentir. Podemos igualmente tomar um terceiro partido e comparar o mapa dessa pessoa com o mapa composto. É um exercício fascinante. Digamos que eu me encontro numa relação a longo prazo mas que também tenho um amante. Posso tomar esse terceiro mapa e ver como afecta o mapa composto entre mim e o meu companheiro, obtendo uma imagem bem clara sobre como o meu amante afecta a relação. Também podemos olhar o mapa de uma criança em relação ao mapa composto dos pais. Isto é muito útil em termos de entender as dinâmicas familiares. Algumas crianças conseguem realmente romper a relação paternal, enquanto que outras ajudam a mantê-la firme. Observamos isto ao olhar o mapa da criança em relação ao mapa composto dos pais. Poderíamos não ver esta dinâmica ao explorar somente a sinastria entre a criança e cada um dos pais.


Liberdade e destino dentro da relação
Trabalhar com mapas compostos faz-nos pensar em termos de algo maior que nós próprios como indivíduos. Para onde quer que vamos, nós criamos relações intermédias com outras pessoas, e podemos não ter o mesmo poder de escolha ao lidar com essas relações intermédias como quando lidamos com os nossos próprios problemas pessoais. Se uma pessoa tem uma quadratura Sol-Saturno no mapa natal, ela pode fazer algo a esse respeito. Não é necessário tornar-se vítima dessa circunstância ou viver somente sob o seu lado obscuro. Pode ser um aspecto difícil nos primeiros anos de vida e reflectir profundos sentimentos de insegurança ou insuficiência. Mas a pessoa pode dizer: "Eu sei que muito da minha insegurança está ligada ao meu pai e à minha infância. Eu prejudico-me a mim própria porque por vezes tenho medo de ambicionar. Muitas vezes sou demasiado severa comigo mesma e tenho demasiadas expectativas. Mas eu vou tentar resolver estes problemas. Farei um esforço para perceber do que se tratam. Posso precisar de psicoterapia para me ajudar a aprender a confiar mais em mim. E tentarei desenvolver o meu Saturno para obter mais confiança." Gradualmente, é possível modelar essa quadratura Sol-Saturno em algo muito forte e criativo se a pessoa se propôr a esforçar o suficiente.

Mas quando uma quadratura Sol-Saturno aparece num mapa composto, a relação não pode recorrer à psicoterapia. A relação não pode dizer, de sua própria vontade: "Eu vou tentar resolver estes sentimentos de limitação e insegurança." A relação não "sente" insegurança. Ambos os indivíduos podem trabalhar os seus Saturnos. Mas nenhum dos dois poderá ter uma quadratura Sol-Saturno, e nenhum dos dois perceberá realmente porque, quando estão juntos, algo na relação impede e frusta os seus objectivos em comum. As limitações externas que normalmente acompanham uma composição Sol-Saturno podem parecer estranhamente impessoais e para lá do controlo de qualquer um.

O sentimento impessoal do mapa composto pode tornar-se muito incómodo se estivermos psicologicamente inclinados, pois a astrologia psicológica implica responsabilidade individual e uma crença em que é possível mudar muitas coisas nas nossas vidas se estivermos preparados para fazer o trabalho interno. Ao observar o mapa natal como uma imagem interior, podemos tomar responsabilidades sobre como o expressamos, e o facto de estar consciente pode fazer uma diferença enorme. Uma visão psicológica da astrologia permite-nos transformar muitas coisas se nos esforçarmos o suficiente. Mas é possível deixarmo-nos iludir pela fantasia de que podemos mudar o que quer que seja, e algumas coisas permanecem fora do alcance de influência do indivíduo. Não estou a sugerir que os mapas compostos não sejam psicológicos, ou que deveríamos abandonar esta visão ao interpretá-los. Mas "psicológico" nem sempre significa livre, e mudança pode significar uma mudança nas atitudes de ambas as pessoas em relação ao relacionamento, mais que uma mudança no padrão endémico da própria relação.

Não podemos fazer nada para mudar os padrões fundamentais num mapa composto. É óbvio que o mesmo poderá ser dito sobre um mapa individual. Mas parece que temos mais espaço para influír nos níveis através dos quais expressamos os nossos padrões natais. Isto dá-nos a sensação – válida ou não – que temos o poder para participar activamente , ou mesmo criar, o nosso próprio futuro. Talvez assim seja, pelo menos em algumas áreas da vida. Mas um mapa composto apresenta-nos uma experiência diferente, se não mesmo uma realidade diferente. Podemos alterar a nossa forma de reagir aos padrões apresentados no mapa composto, e podemos esforçar-nos para criar escapes criativos para as suas energias. Mas mesmo com a máxima cooperação do casal, os padrões do mapa composto sentem-se “fora” da nossa esfera de influência pessoal. Um mapa composto não dirá: "Este é um mau relacionamento. Livra-te dele.” Poderá dizer, no entanto: “Este relacionamento tem uma restrição que lhe é inerente e que nenhuma das pessoas conseguirá alterar. Se queres este relacionamento, aceita este facto." Se o mapa composto tem uma quadratura Sol-Saturno ou uma conjunção Sol-Quíron, ele contém limites incorporados, frequentemente de tipo muito concreto. Estes limites podem tornar-se criativos e positivos para um ou ambos os indivíduos. Mas nós sentimos que esses limites nos foram impostos. Uma quadratura Sol-Saturno ou uma conjunção Sol-Quíron no mapa natal também contém limites inerentes, mas nós experimentamo-los de outra forma.

Tomemos os aspectos de Sol-Quíron do mapa composto. Tenho visto esses aspectos muitas vezes quando uma relação involve a inevitável inclusão de limites vindos do passado. O passado poderá ser uma ex-parceira que quer cobrar a sua pensão de alimentos, ou poderão ser filhos de um antigo casamento. Estas situações podem causar grandes sofrimentos, especialmente quando há crianças envolvidas, porque não importa o grau de maturidade e de consciência das duas pessoas, existirão conflitos, prioridades repartidas, sentimentos feridos e, talvez até, restrições financeiras. Não se trata de uma questão de alterar atitudes; famílias anteriores são, para qualquer casal, factores precedentes que sempre imporão limites. Se um casal não sentir limites nestas circunstâncias, então provavelmente não veremos um aspecto Sol-Quíron no mapa composto.

Sabemos que Quíron está ligado a experiências dolorosas, particularmente àquelas que parecem injustas e imerecidas, e que são mais produto do estado colectivo que a culpa de alguém em particular ou de algum acto de malícia. Os contactos Sol-Quíron num mapa composto sugerem que a própria relação carrega consigo uma ferida incurável, frequentemente ligada ao passado de ambas as partes, ou à natureza do mundo onde as duas pessoas vivem. Simultaneamente, a relação pode curar profundamente ambas as pessoas, ou aqueles que entram em contacto com o casal, porque os limites inerentes, ao invocar sofrimento, invocam também compreensão e compaixão.

Tenho visto algumas vezes o aspecto Sol-Quíron num mapa composto quando duas pessoas querem desesperadamente ter filhos mas não o conseguem. Esta é uma ferida que pode levar as pessoas a pensar de uma forma muito mais profunda sobre quem são e qual o propósito de suas vidas, porque não têm o "propósito" colectivamente imposto de uma família que lhes dê uma direção na vida. Outro exemplo poderia ser um casal onde existe uma grande diferença de idades, e o parceiro mais novo vê o outro envelhecer e enfraquecer. Não há amor nem compromisso suficientes que possam fazer o relógio andar para trás. Ou talvez um dos parceiros sofra de uma deficiência física, a qual pode ser profunda e verdadeiramente aceite, mas que limita a mobilidade de ambas as pessoas. Outro exemplo será o casamento entre duas raças, ou uma relação homossexual, os quais poderão provocar averções entre os vizinhos xenófobos ou demasiadamente rígidos nas suas definições de normalidade. Xenofobia e opiniões rígidas são caracterísiticas de muitas, muitas pessoas, e não há angústia ou raiva suficientes que possam alterar esta infeliz imperfeição na natureza humana. Ambas as pessoas podem sofrer com a relação, não porque seja “má”, mas porque existe algo na forma como a relação "se encaixa" no colectivo que limita as suas possibilidades.

Não digo que seja uma imagem estática. No que diz respeito a curar, depende do que se quer dizer com essa palavra. As cicatrizes de Quíron não saram no sentido de desaparecerem. Alguma coisa mudou para sempre, mesmo que o veneno tenha sido libertado e purificado. Não é possível recuperar a inocência uma vez destruída pelo tipo de ferimento que este planetóide reflecte. Mas a atitude da pessoa em relação à ferida pode mudar, o que pode resultar numa maior tolerância, compaixão e sabedoria. Esse é um tipo de cura; mas não desfaz o passado. Uma pessoa não pode fazer com que os filhos de um antigo casamento desapareçam como fumaça, por exemplo. Pode tenter paralisar a ferida ao separar-se das crianças emocionalmente, e nunca mais as ver; e aí aparecerá um novo tipo de ferida com que terá que lidar. Ou pode esforçar-se por enfrentar todas as complicações emocionais e eventualmente estabelecer relacionamentos recompensadores com todas as pessoas envolvidas. Mas haverão sempre compromissos, mágoa e uma sensação de perda. Tais aspectos no mapa composto não significam que os efeitos da dificuldade permaneçam estáticos e inalteráveis. Ambas as pessoas podem transformar-se profunda e permanentemente. Mas o passado não pode ser refeito.

O mapa composto progride como um mapa natal, e isso reflecte mudanças dentro da relação tal como o faz dentro do indivíduo. Mas o mapa composto visto como uma entidade não tem a mesma capacidade que um indivíduo tem para decidir, por sua própria vontade, mudar ou lutar contra algo. Não se trata de um indivíduo


consciente. Ambas as pessoas podem lutar para se tornarem mais conscientes, e as formas nas quais elas experimentam a relação poderão mudar respectivamente. Mas os padrões básicos da relação desdobram-se como uma semente que cresce até se tornar planta, com uma fatalidade natural que pode parecer estranha perante a nossa consciência egocêntrica.




QUEM É LIZ GREENE?



Liz Greene é reconhecida pelos astrólogos de todo o mundo,
profissionais e não profissionais.
Greene é autora de muitos livros e diversas publicações, e tem desempenhado um papel importante na construção da Astrologia Psicológica moderna.
Formada em Psicologia, Liz Greene é uma qualificada analista Jungiana. Detém ainda um diploma em Aconselhamento, obtido no Centro de Psicologia Transpessoal de Londres, e também um diploma da Faculdade de Estudos Astrológicos, da qual é Patrona desde sempre.
www.atro.com

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