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Como é freqüente entre músicos de jazz, Ella teve uma infância difícil. Seus pais nunca se casaram e não ficaram juntos por muito tempo, o que fez com que ela tivesse que viver com o padrasto, que a maltratava. Aos quatorze anos perdeu a mãe e decidiu largar a escola, sendo, meses mais tarde levada para um reformatório por vadiagem. Não fica lá por muito tempo, e foge voltando a viver nas ruas de Nova Iorque, cantando e dançando em troca de gorjetas.
Em novembro de 1934 decidiu participar do show de calouros que acontecia no Apollo Theatre, no Harlem, e apesar de maltrapilha e nervosa, faturou o primeiro prêmio: duas semanas apresentando-se no teatro. No entanto o gerente lhe negou seu direito, por considerar Ella “muito feia”.
Voltou a cantar em pequenos grupos, sem receber praticamente nada, até que o vocalista da banda do primeiro “rei do swing” Chick Webb, a levou para um teste com o bandleader, o qual, antes mesmo de ouví-la, repetindo o gerente do Apollo, disse ser Ella muito feia para cantar diante de sua banda. Após discutir com seu vocalista - que ameaçou deixar a banda caso não desse a Ella uma chance - ouve-a e faz o melhor negócio de sua vida, contratando-a. Em breve a banda de Chick Webb se apresentaria no Savoy, sendo um verdadeiro estouro. Ella gravou seu primeiro sucesso com Webb, “A-Tisket a-Tasket”, em 1938.
Ella tinha uma voz doce com entonação de menina, extremo domínio da técnica vocal, swing e scat maravilhosos e a capacidade de percorrer as escalas ascendentes e descendentes com incomparável maestria. Some-se a isso o fato de que, apesar de sua infancia difícil, cantava com contagiante alegria.
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Após a morte de Webb em 39, Ella assume o comando de sua orquestra até sua dissolucao, cerca de dois anos mais tarde.
Aos 19 anos já era considerada a primeira dama do jazz recebendo críticas extremamente elogiosas das maiores revistas de jazz dos EUA, o que a leva a ser contratada pelo produtor e dono de gravadoras (Verve/Pablo) Norman Granz, integrando o grupo Jazz At The Philharmonic gerenciado por ele. Granz torna-se seu empresário e, em 1956, começam a produzir uma serie de songbooks que tornaram ainda mais clássicos compositores como os irmãos Gershwin, Irving Berlin, Duke Ellington, Cole Porter e Tom Jobim, entre outros.
Ella gravou três discos clássicos ao lado de Louis Armstrong (também produzidos por Granz): o primeiro chamado simplesmente Ella and Louis, o segundo Ella and Louis Again (de novo), cantando grandes canções da música americana acompanhados pelo trio de Oscar Peterson (que incluia seu marido Ray Brown), e o terceiro, Porgy and Bess, do musical negro de Gershwin, que dispensa comentarios. Seus discos em dueto com Joe Pass são considerados dos biscoitos mais finos do jazz.
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Gozou de grande sucesso ao longo de toda sua carreira - desde os primeiros dias no Savoy, passando pelos shows para universitários libertários nos anos 60, aos concertos lotados até sua morte em 1996.
Fernando Jardim
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