Jan 22, 2007

ENTREVISTA COM BEN HARPER




Muitos artistas internacionais vêm ao Brasil para shows.
Alguns vêm para se divertir somente.
Ben Harper, que toca nesta 2ª feira (22/1), no Via Funchal, na zona sul de São Paulo, aproveita a ocasião para fazer os dois. Em turnê pelo Brasil, que começou na quinta em Porto Alegre, o cantor e compositor vai usar o tempo livre para conhecer as praias do País. E o turismo não se limita apenas à costa brasileira.

Mesmo sendo um apaixonado pelo surfe, ele reservou espaço fora do litoral em sua passagem pela América do Sul. Harper trocará a prancha por uma motocicleta, com a qual pretende cruzar o sul do Brasil e chegar até a Argentina, onde planeja encontrar amigos. Nesse percurso, um ponto turístico está garantido: as Cataratas do Iguaçu, lugar de fascínio para ele, que quer ir ainda até Fernando de Noronha.

A turnê segue para o Rio, na quinta, e se encerra em Salvador, no sábado. Os shows terão abertura de Donavon Frankenreiter, um de seus discípulos musicais, ao lado de Jack Johnson, Matt Costa e outros.
Em entrevista à reportagem, antes de iniciar a viagem, Harper falou sobre sua relação com o Brasil de política, surfe, de espiritualidade e de seu processo de criação.

P - Você tem os braços e costas inteiros tatuados. O que significam esses desenhos para você?
BEN HARPER - Essas tatuagens maoris são as minhas linhas da vida Contam a história de minha vida e o que é importante para mim. De onde eu vim e para onde estou indo.

P - Você acha que Barack Hussein Obama, Jr., único senador com ascendência africana na atual legislatura dos EUA, pode vir a ser uma boa opção para as próximas eleições presidenciais?
HARPER - Não quero associar meu nome a nenhum político. Prefiro não opinar sobre futuros nomes. Você tem de tomar cuidado com quem se associa. Não acredito em nenhum político. Você tem de provar para mim, com suas palavras e suas ações, que se importa. Eles destruíram minha cultura e meu meio ambiente. Onde estavam os políticos quando eram realmente necessários em New Orleans? Desculpas nunca ajudaram ninguém a chegar a lugar nenhum. Para mim, políticos, grandes corporações e entidades têm responsabilidade pelo que acontece. Mas não toda a responsabilidade, pois o povo tem de querer mudar também. Ou é revolução. Não há meio-termo.

P - E qual sua opinião sobre o presidente George W. Bush?
HARPER - Quem é ele? Ele me envergonha. Os EUA merecem algo melhor.

P - Você vai encerrar a turnê em Salvador, cidade que você fez questão de incluir em sua passagem pelo Brasil. O fato de ter uma grande população negra influenciou na escolha?
HARPER - Escolhi tocar lá porque não é um lugar em que as pessoas costumam ir. Talvez as pessoas na América do Sul costumem ir com mais freqüência. Minha cor era marrom, agora, com as tatuagens, virou uma grande mistura. Não me prendo em preto-e-branco. Para mim, essa é a maior fraqueza humana. Fazer julgamentos pela cor de uma pessoa. Claro que há importância em ser preto, branco ou marrom. Mas onde isso acaba? Qual o benefício? Ouvi dizer que Salvador é uma das maiores cidades negras do mundo. É fantástico. Mas quero tocar para todos em todo lugar. Tenho muito o que aprender sobre a música de Salvador. Eu me envergonho de conhecer apenas o óbvio de música brasileira. Gilberto Gil, Sepultura, Mutantes, etc., etc.

P - Como foi gravar com o grupo gospel The Blind Boys of Alabama?
HARPER - Foi incrível. Uma mudança de vida. Uma afirmação de vida. Para mim, há o gospel e o religioso. São duas coisas totalmente diferentes. Gospel music me faz acreditar no espírito que me motiva e me inspira para estar vivo. Religião é bem diferente. Sempre gostei de gospel music. É realmente daí que o rock and roll vem. Sei que ter a oportunidade de fazer gospel music com os Blind Boys, que têm uma forte tradição nesse tipo de música, me afetou.

"A MANEIRA COMO AS PESSOAS MANIPULAM DEUS NÃO É SADIA"

P - Como é sua relação com a religião?
HARPER - É fácil acreditar em Deus quando se está bem e difícil quando se está em dificuldade. Não gosto quando vejo atletas agradecendo a Deus por um resultado: "Obrigado Deus por ter me permitido vencer." Isso significa que Deus condenou os que perderam? Acho que Deus não tem muito a fazer para interferir em eventos esportivos. Mas não sei. Realmente acho que há um lugar para o espírito humano. A maneira como as pessoas manipulam Deus não é sadia. Deus é mais uma maneira de viver do que uma maneira de falar. Quer saber? Acho que sou Jedi.

P - Como é seu processo de criação?
HARPER - Para mim, música é um processo natural. Nunca sentei e falei: "Vou escrever uma música hoje." Não é assim que eu componho. Faço quando o processo natural me leva a pôr as idéias no papel.

P - Você encontra tempo para surfar durante a agenda de shows e estúdio?
HARPER - Essa é a pior parte. Minha vida está tão ocupada com as crianças. Tenho quatro filhos. Mas desculpas não vão me fazer melhorar no surfe. Antes de vir para cá, treinei por três dias para me preparar. Em um desses dias, as ondas estavam tão enormes que fui jogado como uma boneca de trapo. É o tipo de coisa que você tem de fazer todo dia para ficar realmente bom. Não estou preparado para grande ondas, mas estou preparado para surfar no Brasil.

P - Como é a sua relação com o Brasil?
HARPER - Para qualquer lugar que eu tenha ido, Alemanha, Turquia Nova Zelândia ou Londres, encontro muita gente do Brasil representando o País de uma forma grande. É incrível notar as pessoas com bandeiras, mostrando o orgulho brasileiro. Tenho de agradecer ao Brasil por ajudar a divulgar a música por meio do boca-a-boca. É a maneira que a música viaja pelo mundo. Pode não ser a melhor publicidade, mas acho que é a que mais dura.
www.cruzeironet.com.br

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